Noite plena, cálida, de estrelas propícias, desceu sobre o cenário beato e místico das ruínas do Convento do Carmo para testemunhar a estreia de Costa Campos como solista principal, interpretando o D. Basílio do Barbeiro de Sevilha, sob a direcção de Jan Latham König.Era o primeiro cume na vida ainda jovem deste licenciado em Direito, natural de Luanda, que animoso diligenciava na busca insana do apolíneo gesto, do grave e escultórico canto, desde a Escola Superior de Teatro e Cinema do Conservatório Nacional, com Maria Germana Tânger e Águeda Sena, passando pela proba ensinança de Maria Cristina de Castro, Hugo Casaes, Natália Viana, Elsa Saque e Liliane Bizineche, pelo conspícuo aperfeiçoamento com Ivo Vinco, Jeff Lawton, Jonathan Morris e Günther Bauer; e haurindo por fim os esplêndidos princípios de voz e interpretação da divina Grace Bumbry e da maestra ilustre que é Enza Ferrari.Foram em seguida os desempenhos de cunho músico-teatral pluridisciplinar e vário: o Judas, de O Nazareno (Coliseu de Lisboa), La Diva de Zarzuelas Cabaré e Olé Olé (Municipal de S. Luís), o Marquês de Obigny na histórica produção de La Traviata, assinada por Pier Luigi Pizzi e dirigida por Giuliano Carella (Teatro de S. Carlos), o Senador Robert Lyons em Of Thee I Sing, de Gershwin (Festival de Música de Macau), o Carumba, da Vingança da Cigana de Leal Moreira.Em frutos artísticos esplêndidos sorriu a Costa Campos o ano de 2009, quando em S. Carlos, exemplarmente integrado nos princípios e nas originalíssimas concepções encenográficas de homens de teatro da estatura de Peter Konwintschy e Michael Hampe, logrou autênticas criações nos papéis de Bénoit, de La Bohème (direcção de Julia Jones) e do Pretoriano, em Agripina, de Handel.Artista de infatigável capacidade de trabalho e de constante aperfeiçoamento, ávido de sempre novos desafios, é na criação do papel de Montesinos, da ópera de Boismortier D. Quixote et la Duchesse, que averba triunfo de monta ao exibir a excelência do seu registo grave, afrontando pela vez primeira os escolhos de uma tessitura de baixo-profundo, oferta magnânima aceite pelo Teatro Nacional quando o denomina cover do papel do Inquisidor na sua digníssima produção de Don Carlo.